sábado, 29 de agosto de 2009

DIÁRIO DE BORDO

Diário de bordo. Novembro, 17, 2085

Missão espacial EURONASA-Marte
Capitão James Johanson
Dia 3.679
Após perdermos contato com a base terrestre há exatos três anos, as esperanças retornam ao nosso horizonte. Foi uma decisão fatal para alguns dos nossos. Dos 27 membros voluntários da tripulação original, todos excelentes profissionais de áreas como aeronáutica, medicina, farmacologia, processamento de dados, etc, somente seis indivíduos se mostraram resistentes o suficiente para conseguir realizar a viagem de retorno. Sabíamos que, a exemplo dos navegadores europeus no longínquo século XIV, essa era uma viagem que poderia não ter volta. Colonizadores. Esse era o termo utilizado quando partimos em busca de uma ultima tentativa desesperada de encontrar um local apropriado para a continuação da vida humana, já que a colônia lunar havia provado ser um tremendo fracasso. O planeta azul já figura agora na nossa janela. A aterrissagem é esperada para dentro de algumas horas. Como estarão nossos parentes e amigos? Dez anos são uma eternidade. Antes de partirmos, as pesquisas com motores a fusão nuclear para alcançar a velocidade da luz eram bastante promissoras, como estará o andamento dessa nova tecnologia? Será que mais pessoas terão que pagar o preço das viagens excessivamente longas como a nossa para se refugiar no planeta vermelho? Será que a situação do planeta melhorou um pouco ou a população seguiu reduzindo naquele índice desesperador? Tudo indicava que, se as coisas seguissem naquele ritmo, talvez nem houvesse mais motivo algum para regressarmos da nossa missão, fato que de certo modo até ajudou alguns dos nossos a tomar a decisão de partir numa jornada considerada por muitos como uma total loucura. Porém, se as medidas de reversão do aquecimento global (termo usado na época) deram resultados, talvez algumas milhares de pessoas (as que como nós eram inexplicavelmente imunes à peste bolhosa) tenham sobrevivido, em que pese a péssima qualidade do ar, carregado de enxofre e dióxido de carbono e o escasso acesso a caríssima água dessalinizada, uma vez que água potável já era uma exclusividade para poucos. Nível de expectativa alto!

Diário de bordo. Novembro, 18, 2085

Missão espacial EURONASA-Marte
Capitão James Johanson
Dia 3.680

Perplexidade. Ainda estamos “processando” as novidades em nossas mentes... Se não fossem automáticos os equipamentos de orientação da espaçonave, guiados por satélite, seria impossível encontrar o local correto da aterrissagem no modo visual, visto a aparência da cidade de College station, nos arredores de Austin, Texas, IY (Império Yankee, antigo Estados Unidos da América). Para onde quer que se olhasse, até onde a vista alcançava, era tudo um mar verde... Inevitável a comparação com a imagem da época do colégio, quando fomos apresentados a algumas fotos bastante antigas da então “Floresta Amazônica” durante uma aula de história. Ficamos estáticos com a vista, ao mesmo tempo impressionante e desesperadora. As nossas piores previsões haviam se concretizado. A sexta extinção em massa da vida na terra acontecera inexoravelmente. Períodos de aquecimento global e até mesmo pequenas e grandes eras glaciais já haviam ocorrido, porém dessa vez a “contribuição” humana havia sido decisiva, acelerando o processo de maneira impressionante. Entre os seis tripulantes, somente um tem algo que se assemelha a um “curso de sobrevivência na selva”, que aliás pensava que nunca teria utilidade nenhuma, uma vez que mesmo antes de partirmos mais de dez anos atrás já não havia mais floresta alguma sobre o planeta. Graças à atuação desse valoroso colega de missão, conseguimos hoje algumas frutas silvestres para nos alimentar, porque nosso alimento não resistiu a atmosfera da terra nem ao menos 24 horas. Diferentemente do passado, agora há água por toda parte, córregos, rios, lagos imensos onde antes era uma paisagem desértica. É desnecessário dizer que não há eletricidade disponível em lugar nenhum (a própria definição de lugar agora fica meio confusa) dentro da floresta, porém graças aos painéis solares instalados na espaçonave conseguimos acionar a comunicação via ondas de rádio e contatamos um sinal emitido do leste de Cuba. Apesar de entrecortado, o sinal nos permitiu entender que lá existe uma colônia de sobreviventes, contando com cerca de trinta pessoas e é isso. Ninguém mais. Em parte nenhuma do mundo conhecido. Ou pelo menos ninguém que tenha acesso a algum rádio ainda funcionando em algum confim do planeta. Vivem como se fizessem parte de uma tribo, se autodenominam “os sobreviventes” e falam inglês com um sotaque carregado, porém inteligível. Amanhã tentaremos de novo contato. Procuraremos saber da viabilidade de uma incursão na floresta para quem sabe nos juntarmos a eles para termos uma chance. Creio que não temos escolha...

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