domingo, 29 de junho de 2014

Velhos adolescentes

Quando pequeno em Lavras, certo dia me dei conta de que a maioria dos meus amigos e colegas do colégio eram um ano mais velho do que eu, nascidos em 1974. Isso fez com que eu sempre prestasse atenção em idades de modo geral. Assim, já faz algum tempo que ando ligado no assunto dos 40 anos. Essa atenção tem a ver com as mudanças que observo, seja em comportamento de consumo, de alimentação, de relacionamento, etc. Vamos dizer que observo a vida dos adultos, em comparação à adolescência, incluída aí a pré e a pós adolescência, em especial porque trabalho com esses em sala de aula. Paro e penso sobre o que vejo na TV, nos comerciais, filmes, novelas, na Internet, etc. Uma mudança bastante visível é a afobação. Adultos são menos afobados em quase tudo. É quando comemos mais devagar, degustamos alimentos diferentes para tentar apreciar os diferentes sabores e texturas. Buffet por quilo e à La carte X buffet livre e rodízio de pizza para ver quem comeu mais fatias. Começa a fase do vinho em taças comedidas em oposição às cervejas contabilizadas uma a uma para competir com os amigos sobre a quantidade tomada. Perdem lugar os porres homéricos, os fiascos e ressacas relatados com certo orgulho e ganham espaço os pileques onde sabemos exatamente quando parar. Vinho versus cerveja. Vinho se degusta em taças, na maioria das vezes pela metade. Sem pressa. Prestando atenção no processo. Tentando aprender algo. Qualidade. Cerveja se bebe em fardos, apressadamente para dar efeito logo, ficar mais solto e abordar a mulherada, ou facilitar a abordagem e depois, “bora” pro que interessa mesmo. Quantidade. É na fase adulta que o sexo fica mais quente, mais demorado e intenso e onde a cumplicidade a dois proporciona o que o casamento enquanto instituição tenta, mas não consegue, que é quando dois se tornam um só. Uma mulher especial, que recebe toda a dedicação de um marido especial versus a quantidade de beijos diferentes durante mais um carnaval em Laguna, Rio de Janeiro ou Salvador. O rápido e afobado em comparação ao lento e apreciado. Igual ao fast food em comparação ao slow food (joga no Google que tu vai gostar). Estados Unidos X Europa. Mais uma comédia rápida sem noção de colegiais americanos versus um filme francês ou italiano sobre a essência ou a tragédia humana. Cedemos menos às tentações de agradar aos outros comprando o que os outros têm, de seguir a moda dos outros, de fazer o que a maioria está fazendo. Realiza comigo: Tu PRECISA da oitava calça jeans? Do décimo quinto par de sapatos? De cento e cinquenta e sete canais de TV? De um novo celular que faz tudo, menos fritar pipoca, em menos de um ano? Da terceira TV? Algumas pessoas, é claro, “precisam” de tudo isso. Outras desapegam, pra usar um termo da moda, e se voltam para o que importa mesmo. Geralmente essas pessoas já são adultas, no sentido completo do termo. Hoje em dia, há muitos adultos ainda adolescentes, talvez pela facilidade da economia estável, que permite a exarcebação do consumo de mais e mais. Ostento. Gabo-me. Exibo-me. Mostro na rede social. Só tenho, não sou. O dia que não tiver, não serei. Prato pronto pro analista e crise existencial. Midlife crisis.

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